quinta-feira, 28 de julho de 2016

Porque temos um computador.





-Quando você disse que queria usar o computador, pensei em pesquisa na net ou ver uns vídeos no Youtube.

-Cale-te, serva! Estou em um momento muito importante!

-Jogando Zelda?

-Esses lobos cretinos estão acabando com minha energia!

-Pé, pelo amor de Deus, pode largar esse contr... CUIDADO COM OS ESPINHOS!

-Tu sabes como passar por esses canídeos do inferno?

-Óbvio, o jogo é meu.

-E o que está esperando?

-Pé, não é hora de jogar videog... Mano, sai da parede!

-Estou tentando, serva! Esse moleque imprestável consegue pular ali no muro?

-Consegue, vai logo! PQP, só faltava você cair.

-Silêncio! Eu sou o senhor do universo! Mestre de toda a sabedoria e...

-Tá, tá, presta atenção que você quase caiu.

-Esse controle é uma porcaria pra jogar isso, serva! Não dá pra mirar direito!

-Pára de falar bosta e mata logo esses bichos.

-Tu achas que é simples? Esse moleque descontrolado não sabes atirar!

-Você quem o controla, jumento. Agora vamos parar por aqui e... VOCÊ CAIU?

-Droga.

-Você caiu no lugar mais absurdo.

-Cale-te. Obviamente, deu algum problema nesse jogo idiota.

-Você é realmente o senhor dos videogames.

-Certo, podes usar essa coisa que tu chamas de ocupador.

-Computador.

-O que seja.

-... Pé, você mexeu aqui no meu trabalho?

-Audácia! Por que olhas sempre pra mim?

-Ah é? E por que no documento tem o SEU nome no lugar do meu nos direitos autorais?

-Devo ter confundido com os truques que pesquisei pra jogar esse jogo, e... O que vais fazer com esse mouse, serva e... ARGH!

domingo, 24 de julho de 2016

Tudo é maternidade.




-Esse desenho não faz sentido.
-Claro que não. É um desenho.
-Esses porcos têm corpos de bolas.
-Pois é. Minha filha adora isso.
-Ela nem sequer pisca, serva.
-Pois é. É ótimo.
-É ótimo que ela não pisca? Tu achas isso bom?
-Eu acho que graças a esse desenho de animais com corpos redondos eu tenho meia hora para ouvir meus próprios pensamentos.
-Não sei do que reclamas, serva. A maternidade não parece ser complicada.
-AH você acha é? Que coisa!
-Tu reclamas à toa.
-Ah, Ok então.
-Tu não vais discutir?
-Eu? Não. Tô de boa.
-De boa? Tu estás de boa?
-É.
-De... Boa?
-Sim. De boa.
-Tu estás DE BOA?
-Foi o que eu disse, não foi?
-O que aconteceste contigo?
-Comigo? Nada uai.
-Como nada? Tu não queres discutir comigo!
-Uai, discutir pra quê? Pra Eu ficar nervosa querendo que você entenda algo que possivelmente não está nem perto de entender? Pra querer te provar que todo o santo dia eu traço um plano de rotina e que eu NUNCA consigo seguir? Pra te falar como é realmente fácil dormir umas 5 horas por noite, começar a limpar a sala e parar porque algum filho faz coco, no meio do banho outro filho faz coco, ai nisso você ainda queima o arroz, os filhos então brigam enquanto você tenta ir ao banheiro, as roupas que você perdeu um tempão arrumando estão sendo transformadas em tijolos para um forte. É realmente algo super de boa você se pegar conversando sozinha para ouvir uma voz de adulto não de um desenho, esconde todos os seus doces para não aguar seus meninos, mas na verdade é para que eles não comam as coisas que você quer comer, mas no final eles acabam comendo e você fica sem. O momento de ficar sentada no sofá não existe mais porque em 30 segundos duas crianças te consideram parte do móvel e se penduram no seu pescoço, e é claro, começam a brigar de novo.  Mas, de boa. Uma dada hora do dia você acha que fez muito, mas tem ainda louça, roupa, chão, mais fralda e mais briga para administrar - além de supermercado, comida, banho, recolher lixo, explicar para parente porque não vai com 3 crianças pra lugar nenhum e ainda ouvir reclamação. E depois de tudo, sentar no computador querendo se acabar em séries, mas começa procurando vaga de trabalho, ouve umas justificativas de empregador por não te contratar porque "a responsabilidade de mãe iria atrapalhar" que você preferia ter furado os ouvidos. Ai tem ainda que ouvir de pessoas ao redor as suas razões de ter tido tantos filhos, porque minha guria se veste de azul, porque meu guri brinca de boneca, porque ainda amamento meu bebê de oito meses e porque não estou impecável no final do dia pare receber meu marido. Sem contar que o fim de semana esta aí para descansar, eu que não sei aproveità-lo. Meu amor, xô te contar que não descanso desde 2011, Não sei o que é sábado nem domingo. Feriado é tipo uma utopia. E é claro, é tão traquilo quando eles dormem em sincronia, coisa que raramente acontece, e você pensa em tomar um banho que dure mais do que 3 minutos, mas sua mente e corpo só querem é ficar quietinhos jogados no sofá fazendo merda nenhuma. E é nessa hora que normalmente alguém telefona ou entra em casa e já presume como é fácil a vida de uma mãe, isso porque nem de banho tomado você está. Igualzinho você está fazendo.
-Estou sem palavras, serva.
-Ainda bem.
-Gostaria de me desculpar.
-Desculpas aceitas.
-Mas gostaria de perguntar algo.
-Ai lá vem.
-Tu fazes tudo isso e ainda estás feliz. Como?
-Porque, mesmo estando LOUCA todo o dia, todo momento desse dia de loucura é valioso demais pra mim. Estou viva, Pé. Tenho 3 filhos incríveis. Eles me deixam louca, mas eles são universos incríveis. Cada um da sua maneira. Todo dia eles aprendem coisas novas. E a forma do que eles me olham, como se eu fosse uma pessoa ultramente FODA, é de matar qualquer pensamento de autosabotagem ou de insuficiência. Porque eu faço tudo isso, Pé, mas ainda me sinto insuficiente às vezes. Errada, pouca merda. A cobrança em cima é devastadora, mas a cobrança que eu mesma faço em mim é tipo um tiro de bazuca. Mas, a aprendi a ver o lado positivo de tudo, inclusive da dificuldade. E eu sei que tenho que melhorar as minhas percepções da vida, porque são elas que moldam meu caminho. A gente escolhe diariamente como quer viver. Ás vezes dá uns tilts. Mas uma hora eu consigo.
-Os anos te fizeram mais sábia, serva.
-Isso ou fiquei louca de não dormir mais.
-Serva, tua cria dormiste.
-É mesmo.
-O que tu vais fazer? Tomar banho? Escrever? Tomar coca-cola.
-É...
-Ficar sentada aqui olhando pro nada?
-Sim.
-Tô contigo, serva.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Assim foi. Assim é.

 


-Sabe quantos anos tem essa foto, Pé?
-Tempo demais, serva.
-É, tempo demais. 11 anos. ONZE ANOS.
-Pra que essa gritaria? Assim tu só enfatizas tua idade, serva.
-Não tenho abalo sobre isso, bobão.
-Porque tu tens essa cara de índia perdida. 
-Ah tá bom. Bocó.
-Ingrata.
-Eu sou ingrata?
-Tu és mais do que ingrata. Tu és insubordinada. Tu viveste esse tempo todo sem a minha permissão para nada. 
-Sua permissão? É uma brinks, né?
-Tu casaste com um servo que não me reconhece como senhor do Universo.
-E quem é que te reconhece assim, gente?
-Tu tiveste filhos, quase uma máquina de crianças.
-EI!
-Três criaturas que não param quietas, gritam, destróem tudo, caem, babam, e tu nem sequer me deste satisfação.
-Então o senhor todo poderoso está sentidinho porque não foi incluso numa decisão matrimonial?
-E ainda nos mudamos para um lugar mais quente que o sol. Por acaso esqueceste que tenho sérios problemas com o calor? Minha pele é sensível. Não durmo direito.
-Foram só dois anos, Pé, e até onde eu sei você nem saiu de casa.
-Mas senti o calor do mesmo jeito.
-Todos nós, querido.
-Não mudes de assunto! Tu não escreves mais!
-Isso realmente é verdade. Isso é horrível mesmo.
-Não digo aquelas tuas historietas sem graça, estou falando das minhas crônicas!
-Ah... Realmente, né?
-Tu pareces sarcástica.
-Ah só pareço?
-Audácia!
-Olha aqui Pé, a vida passou. E rápido demais pro meu gosto. Agora vamos esquecer isso e nos concentrar no que importa?
-Certamente.
-Ótimo. Vamos escrever uma nova apresentação para você no blog.
-Cadê meu nome no blog?
-Tá de brincadeira? Não tem nem o meu, bocó.
-No outro ao menos tinha a menção sobre minha existência. 
-Ah meu Deus.
-Já vi que não vou gostar daqui.
-Ai, tá bom, whatever, vamos tirar uma foto.
-Tudo estás muito diferente. 
-Faz parte, Pé. Agora vem tirar foto.
-Tu não compras mais |Pringles ou Budweiser pra mim.
-Sabe o que é, em 11 anos as coisas se tornaram um tanto... Inflacionárias, querido.
-Não deveria importar se fosse para agradar ao teu senhor!
-Ah... é verdade né.
-Sinto sarcasmo.
-O quê, eu? Imagina! Agora sorri.
-Não vejo razão. 
-Ai Deus.
-Tu me esqueceste. Tu me usaste de custeio.
-Na verdade é "colocar pra escanteio". 
-Viste, tu não negas.
-Olha Pé. Eu me casei, eu tive filhos, eu sai e voltei de São Paulo. E sim, eu sei que ficamos meio separados, eu e você. Mas nunca é tarde para recomeçar. Vamos, vem tirar foto comigo.
-Tudo bem. 
-Obrigada.
-Com uma condição.
-O quê?
-Já que tu não colocaste meu nome no blog, ao menos tenha a decência de alterar o nome de alguma das suas crias em minha homenagem e...
-SORRIA SENÃO VOCÊ DORME NO VENTILADOR HOJE.
-Audácia. Sempre muito apegada a bobagens fúteis.




WE ARE BACK.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

De novo. Quantas vezes forem necessárias.

Vamos escrever, Rebeca. Pelo amor de Deus, vamos escrever.

Você escreve coisas legais e às vezes loucas desde os 14 anos. Vamos continuar com esse hábito. Você gosta, é legal. Tudo bem que com 14 anos você só estudava. Tinha tempo para fazer tudo. Dormia e comia bem. Hoje com 33, TRÊS filhos pequenos, um marido que mal vê de tanto que trabalha e um milhão de obrigações diárias, parece meio distante essa vontade. Mas você sabe que não é apenas uma vontade, Rebeca. Você sabe que é quase uma necessidade física. É tipo como respirar e comer. Você se alimenta disso. Faz parte do que você é. Acha que não sei que você pensa em prosa e reflete em versos? É o que você é! Chega de fugir disso. Não é tarde demais para viver como você deve viver.

Não me venha com essa cara que não tem tempo. Arranje tempo. Você costumava acreditar que tinha que colocar muitas coisas mais importantes primeiro, mas agora você escolheu acreditar que não quer mais esperar para se sentir completa. E se sentir completa condiz com sua vocação e adoração pela escrita, pelo mundo nerd, por filmes, desenhos, tatuagens, games, livros, moda, maternidade, espiritualidade,e.... Já disse games?

Escreva, Rebeca. Isso não é negligenciar sua família, seus curumins não vão ter um troço se você dedicar meia hora do seu dia para nutrir sua alma de rimas. Parece impossível com três filhos, casa, comida, roupa, freelas, mas você decidiu querer fazer acontecer. Você dorme pouco, come em horas loucas, toma banho na velocidade da luz, a organização metódica da casa é revogada 3 minutos depois de realizada, você então, Deus me livre ficar com pijama quase até o meio dia. Você pode fazer diferente. Muitas pessoas fazem igual, mas você nunca se sentiu parte de nada mesmo, né?

Assim, o que te resta é escrever. Dá tempo de tudo, Rebeca, fica fria. Você é uma super mãe, super esposa e é uma super mulher também. Vambora, que há muitas ideias para colocar no papel.

Obrigada.

De nada.

Agora, escreva.