sábado, 20 de agosto de 2016

Quem tem poder na sua vida?

Todos os dias úteis, a perua do meu filho passa às 5:40h da madrugada para levá-lo à escola. Ou seja, a mamãe coruja aqui, em um estado zumbi eterno, coloca o despertador às 5:15h para entregar o Samuel ao tio da carona no horário combinado.

Como sou filha de uma filha de suíços, não curto nem um pouco atrasar os outros. Então, sou extremamente sistemática para não falhar nesse compromisso.

No entanto, como tudo na vida, às vezes as coisas não saem como gostaríamos.



Certo dia, eu simplesmente não ouvi o despertador. E quando acordei, eram 5:45h. Imagina minha reação. Sim, foi absolutamente repleta de desespero. Parecia que eu tinha que tirar o pai da forca. Nunca catei meu menino da cama e o troquei tão rápido. Provavelmente bati algum recorde mundial. Xingava, muito. Não conseguia acreditar como eu poderia ter dormido, e estava corada de vergonha antes mesmo de encarar o moço da perua.



No portão do meu prédio, jazia o ajudante do perueiro com cara de pouquíssimos amigos. Eu tremia de nervoso e nem conseguia encará-lo. Entreguei o Samuel aos cuidados dele, pedindo desculpas atrás de desculpas, como se eu tivesse cometido um crime. Ele nem sequer me respondeu. O tio da perua repetia, grosseiramente, que estava muito atrasado e que o horário existia para ser cumprido.

Voltei para casa devastada. Parecia que eu tinha acabado de condenar minha alma. Deitei na cama, meu marido, sonolento, perguntou se eu estava bem. Eu expliquei a situação que eu havia acabado de viver e ele, certeiro, disse:

-Meu amor, e daí que você se atrasou? Acontece com todo mundo. Não é o fim do mundo, ninguém morreu por causa disso, tá todo mundo com braço, perna, saúde, casa e comida. Todo mundo vai seguir vivendo de boa. Então, relaxa e dorme.

Naquele momento, o óbvio nunca ficou tão claro: por que raios eu estava tão nervosa? Realmente, não era nada aquela situação, era algo que eventualmente aconteceria e nada disso me condenaria a uma pessoa ruim. Então, qual era o meu problema?

 Era muito simples: descobri que eu tinha uma relação doentia com a opinião alheia. Descobri ainda mais que isso não era algo novo, vinha de longa data, tipo, desde meu nascimento, possivelmente. E ao reconhecer isso, nunca me senti tão idiota. Caraca, por que vivi colocando os outros num pedestal? Por que o que eles pensariam de mim era tão importante?

Porque assim dita o senso comum e normalmente, o senso comum é ensinado em todos os lugares - e a maioria leva para a vida.

E lá estava eu, levando para a vida e dando meu reinado para ele.

Percebi que em muitas situações essa sensação se repetiu: quando me descobri grávida do Pablo, entrei em depressão porque ficava IMAGINANDO o que MINHA FAMÍLIA pensaria de eu ter engravidado quando a Lívia estava com apenas 7 meses. A pessoa tem que ser muito besta de colocar a opinião de outras pessoas acima da própria - pessoas essas que por mais amor que tenhamos, não moram conosco, não pagam nossas contas, não estão na nossa certidão de casamento.

Então, às 6:15h da manhã, deitada na minha cama refletindo sobre isso, DECIDI que não iria mais levar merda nenhuma de sensação de "sou pior do que os outros" para comandar a minha vida. DECIDI que aquela seria a última vez que daria poder aos outros. Parece uma puta bobeira - e realmente é. Mas vivi tanto tempo aprisionada por isso que era quase normal me sentir assim.

But not anymore. Ridículo é aos 33 anos, com 3 filhos e casada há 7 anos eu ainda give a SHIT para o que os demais pensariam de algumas situações que EU vivia. Dezenas de anos de terapia não me ensinaram isso - só quando comecei a meditar que certas respostas vieram á tona. O autoconhecimento sempre é a melhor das guias. Anote isso.

Moral da história: vamos viver as nossas melhores versões. E quando algo não seguir o plano, é apenas a vida nos dando um sacode de emoções, para nos relembrar que somos humanos e podemos escolher o que queremos sentir,

Obrigada despertador pela lição.




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