sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Um. Dois, Três.





"Você tem 3 filhos? Que coragem/bobagem/loucura [insira outro adjetivo negativo aqui]".

Sim senhor, eu tenho 3 filhos. Três. Isso, três filhos. T-R-Ê-S. Um, dois, três. Eu sei que você acha muito, mas era o que eu queria - não da forma que eu queria, mas aquilo que a gente não quer também calha de aparecer nos trilhos da vida, o que podemos fazer? Aceitar, né? E está tuuuudo bem, mesmo. Então aceitamos de bom grado. Obrigada, obrigada!

Esses dias uma amiga postou no Facebook um quadrinho feito pela Chaunie Brusie e traduzido pelo Hypeness que me fez pensar nas questões do tratamento social que mães e pais recebem.




Claro que quando eu li isso, super me identifiquei. E muito mais porque, quando saio com meus filhos, especialmente sozinha, recebo incríveis olhares de:

1)Nossa, essa não sabe o que é camisinha ou anticoncepcional;
2)Nossa, essa quer povoar o mundo sozinha;
3)Nossa, outra que deve depender do namorado/marido/pai das crianças;
4.)Nossa, acabou com a vida dela, tadinha;
5.) Nossa, essa não tem internet nem TV em casa;
6)Nossa, essa sabe segurar homem;
7)Nossa, e depois favelada quem tem filho à toa;
8) Nossa, quer abrir uma creche.
9) Todas as alternativas.


É uma infinidade de especulações sobre as razões da mulher ter se tornado mãe, mas o mesmo preceito não cabe ao homem. Quando nós todos saímos de casa com o meu marido, os olhares dirigidos à minha família eram de:

1)Aaaah, que família linda;
2)Ahhh que fofura, o homem carregando a filha;
3) Aaaah, que mãe de sorte de ter um homem presente em casa;
4) Aaah que filhos lindos, puxaram o pai;
5.)Todas as alternativas mais outras qualquer realçando como eu tenho sorte por ter um marido ao meu lado.

Olha gente, eu amo meu marido. De verdade, ele é um cara maravilhoso, mas esse pensamento barroco de que eu, como mulher, só sou completa, útil e necessária para a sociedade POR CAUSA do meu companheiro é um troço que não consigo entender. Por que eu andando sozinha na rua com meus filhos (sim, no plural) QUER DIZER QUE sou sozinha, uma coitada, uma largada e irresponsável? Desde quando a mãe virou um padrão misógino desta forma?

Bom, certamente vem de longa data, já que o mundo é regido por alguns parâmetros bem machistas.

O negócio é: ser mãe já virou um negócio imaculado (a partir da concepção, você está fadada a ter os maiores medos e culpas da sua vida, e mesmo os camuflando com sorrisos e fotos no Instagram, ainda será interruptamente julgada por todos eles, por pessoas que, pasmem, normalmente nem pais são) - mãe de mais de um filho recebe um tratamento ainda pior, como se a quantidade dos filhos fossem dependente e diretamente ligada a forma que eles vão crescer (na maioria das vezes, pela votação geral, como um bando de bostas acéfalas e mal educadas). Afinal, na cabeça delas, um filho é difícil, dois é mais ainda e três é, não só impossível, como um atestado de irresponsabilidade, porque afinal, que mãe que consegue cuidar e criar de 3 filhos? Ah sim, nossas mães e avós. Mas naquela época era outra coisa, hoje é um Deus me livre. Né? Não.

Eu faço tudo sozinha - quando engravidei da minha filha, minha segunda gestação, eu estava empregada, mas como grande parte das profissionais que se vêem grávidas, fui convidada à me retirar logo depois da minha licença.Ali senti como o mercado de trabalho se fechou ainda mais para mim. Quando tive meu terceiro, então, virei um repelente ambulante de vagas. E assim, fui forçada a ser mãe 24h e dona de casa.

Hoje estou em casa, insistindo na volta à minha profissão, faxinando com o melhor humor que conseguir ter e cuidando da minha cria da melhor maneira que consigo. Porque digo, óbvio que não é easy task. Tem dias que não durmo mais de 4 horas e nem consigo tomar banho antes da meia noite. Comer então é uma raridade. Mas mesmo assim, estamos na luta da ação diária de "vamos fazer o melhor que pudemos com o que tivermos". Eu acredito que a vida só muda quando a gente muda, então, vomitei os desaforos e desfilo minha vida de mãe para engrandecer todas as mães que se sentem fuziladas pela sociedade patriarcal que querem fazer com que a gente se sinta mal pelas nossas próprias decisões. Digo, manas: vocês não estão sozinhas. Já somos completas por sermos o que somos. Mulheres que são mães e que calham de ter ou não companheiros/as.

Já somos inteiras. E está tudo bem com isso.







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