quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Cisma



A parte ruim de escrever é que nem sempre a inspiração acompanha a vontade. Então, vive-se forçando-se — um tal de se obrigar a sentar, ouvir, sentir, pensar, pensar, e pensar. E sentir. E pensar mais um pouco. E logo, despejar toda e qualquer palavra que lhe cabe, que lhe alcança, que lhe soa convidativa a se amansar confortavelmente no papel.

E cá estamos, forçando a inapetência pela linguagem a se expressar, seja ela a maneira que for. Não importa. O importante é ouvir o enfastioso silêncio do hiato criativo e ignorá-lo completamente, deixando-o só.

Mas a a gente também conhece a solidão, né? Quero dizer, aqueles que escrevem sabem bem o que é isso — essa cisma de, a cada passo, narrar tudo em prazeres ou angústias, e saber que ninguém irá entender completamente o que aquilo significa (para a gente).

Só ou não, cá estamos: escrevendo. Nada em particular e, ao mesmo tempo, tudo muito pessoal. É a forma mais sincera de ser e não ser. Ouso dizer que é a única forma de se tanger pelo que é. De existir. De perceber os momentos e saboreá-los, mesmo quando o gosto pende para o amargo — no entanto, pense só: o que é a vida senão um adorno agridoce?

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