quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Libre soy

 Eu tenho tido esse anseio de escrever. É fascinante. É uma sede, uma fome - quase insaciável, absolutamente irrefreável. Algo que só sentia na adolescência, quando as palavras eram meu abrigo de dias de bullying e racismo. Eram meu mundo encantado, onde eu era a rainha e tudo era possível. Quando eu estava feliz, eu usava essa felicidade como argila para moldar as linhas - da mesma maneira que, quando eu estava triste, a tristeza era derramada no papel, abundantemente. O importante era ser eu por eu mesma, sem nenhum filtro. E desta maneira, eu era livre.

Livre. Eu me sinto assim: livre.

Livre de interpretações sobre minha vida, livre de apontamentos, de expectativas. Livre do ontem e do amanhã. Livre de preocupações. Um longo e duradouro Hakuna Matata. Carpe Diem, folks! Quase nada mais me tira o sono, a risada e o foco. Eu rompi com a jornada emocional e apenas estou fluindo da melhor maneira que sou. Olho pra mim e digo: e aí, Rebs, cê tá boa, irmã? Sorrio mais do que o costume. É natural. É meu. Sou eu, sendo eu mesma.

Aí então escrevo. Às vezes nasce poesia, às vezes prosa. Algumas vezes, apenas um leve traçado. E aceito. E amo. Porque é uma afirmação de tudo que sinto. E sou.

Ser o que se é.

E escrever é o que sou. Sempre fui. Sempre serei.

Oxalá.



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Felix sit annus novus.

 Eu escrevo para ninguém - é algo pessoal, intransferível e sem prescrição. É algo que nasce, permanece e morre. E as mortes são rápidas, porém muitas vezes dolorosas. O luto se arrasta por horas ou dias, numa agonia de se respirar num ambiente rarefeito. Sufoca e abafa o sono, a fome e a sede, até finalmente imobilizar o corpo e a alma de todo e qualquer interesse pela vida.

O luto é pior do que a perda, penso. Não há preparo de como se habituar nessas situações. E quando há, nada do que foi ensaiado de fato acontece. É sempre uma sensaçào inédita que requer resposta igualmente inédita. 

E parece que a dor nunca irá embora.

Mas ela vai. Tudo sempre passa.

Então, vem o renascimento: começamos a perceber novamente as cores do céu. O gosto da água, o sabor das comidas. Os olhos dos que amados parecem faróis. O som do mundo é vívido, como deve ser.

E, sem notar, estou escrevendo de novo.

Como agora.

Este ano de 2021 foi de fúria e ruína, mas que foram necessárias para manifestar transformação. Quietude. Aceitação. Perceber que o que me é confortável não é obrigatoriamente o meu caminho de felicidade. E que ainda tenho tempo, não estou atrasada para nada. A vida é passagem de ida e todo dia o bilhete é renovado. Eu sei que faço o melhor que consigo, todos os dias, e o melhor nem sempre é produtivo - às vezes ele é se arrastar pelo dia e pegar no sono à noite. Nada é definitivo e levei disso uma lição: o sorriso da mente é revelado em corpo. É o que é. Sou o que sou. Tenho sorte - e muita. É fácil amar os dias ensolarados; há beleza em dias nublados e chuvosos. Deus habita em mim, como eu mesma. Meus sonhos são reais e são frutos da imaginação do Divino.

Confie em você, Rebeca. Confie em você, Leitor. Você está indo bem.

Que no próximo ano nós possamos ser mais gentis conosco. Que lutemos pelo o que é certo. Que Confiemos na vida. Que amemos os nossos. Que nos amemos, inteiros, completos, únicos, com todas as nossas arestas ásperas.

O melhor está por vir.

Obrigada. 


domingo, 26 de dezembro de 2021

Brisa de Liberdade

 Há uma coisa fascinante no fundo do poço. Ele te amarela e te azeda, tenta acinzentar sua autenticidade e tornar terrenos (e térreos) os seus sonhos; te faz atuar uma vergonha perante o público (como se o público fosse isento de tropeços), tenta te convencer que suas asas estão quebradas e seu lugar é no chão.


Mas ele também te desperta. Depois de todas as horas mais escuras, dos gritos mais abafados, do velório e enterro da sua autoconfiança, em um pequeno momento silencioso, minucioso, poderoso, ele alimenta sua força, ele financia seu contra-ataque, ele fomenta sua gana por vitória; ele não te dá o caminho das pedras, não, nunca - mas ele te faz buscar a bússola que te guiará para a luz - ou para o mais longe possível dele mesmo.


E quando você se dá conta disso e se volta para a saída, já sente a brisa da liberdade sem ao menos conseguir enxergar o céu - e ela é verdadeiramente deliciosa.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O mistério da bolsa pesada.



Era uma vez uma mãe de 3 filhos que foi à casa da vovó levando sua velha bolsa cheia de coisas de filhos pequenos. O caminho inteiro achava que a bolsa estava mais pesada do que o normal, mas achou que talvez fosse apenas sua impressão.
Aí quando voltou para a casa, a mãe dos 3 tirou todas as coisas que levou e descobriu que sua bolsa estava pesada porque alguém colocou 4 latas de sardinha dentro dela.
E nós todos sabemos quem foi.
Pois é.
Fim.

domingo, 19 de dezembro de 2021

Um passo de cada vez.

 Ontem recebi uma mensagem no whatsapp informando carinhosamente que fui a vencedora do sorteio da vendinha do bairro cujo prêmio era um microondas novinho. Foi e ainda é uma alegria instantânea. Eu nunca ganhei nada - tá, num antigo trampo eu já ganhei monitor e dinheiro de bônus na confratenização (na mesma noite, inclusive), mas nunca mais a sorte me foi muito companheira. 

Agora, sou a mais nova proprietária de um eletrodoméstico. É bobagem pra maioria das pessoas que conheço - mas pra mim é uma vitória. Os tempos não têm sido muito amigáveis aqui na quebrada do Capão Redondo. Eu permaneço florescendo nas pequenas conquistas da vida. Este ano comprei a minha primeira TV LED. Aquelas bonitonas, grandonas, levinhas como uma pluma. Imagina, nunca eu pensei que conseguiria comprar uma dessas sem me endividar, mas consegui e à vista. É incrível a sensação de glória.

Evito comentar com os outros sobre isso. Nem todo mundo entende. Acham que "estou atrasada" na enorme corrida da vida. Todo mundo que conheço já tem a casa montada e quitada, e agora que comecei a galgar alguns prestígios. Não tem problema, eu tenho meu tempo. Vou sorrindo e agradecida. 

Aí me dá uma esperança sobre outras "pequenas conquistas" que tenho no radar. Sonhos. Expectativas. É possível que eu, de fato, consiga aquilo que eu desejo. Não é doido? Mas é verdade, é possível, quer dizer, é uma possibilidade. Posso não conseguir, mas posso conseguir.

Posso conseguir, gente. Imagina. Uau.

Mas nada de ansiedade, embora eu seja ansiosa. Faço terapia e tudo por conta disso (e não só por isso, enfim). De qualquer maneira, é a primeira vez em muito tempo que me permito sonhar, de verdade, sem medo, sem ilusões, sem, bom, ansiedade.

E o peso no coração fica mais leve. Abre um novo espaço para a confiança num futuro melhor.

Que venha, não vejo a hora. 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Segundos, minutos, dias envelhecidos.

 Demora, mas a gente aceita. Pelo menos, a maioria de nós.

Aceitamos que no fim, a vida passa e acontece o inevitável: nós envelhecemos. Não ficamos ultra idosos da noite pro dia, mas de repente percebemos que o corpo já não é mais jovem como antes, os interesses já não são os mesmos, o que nos é importante acaba sendo substituído por algo que realmente importa. 

Não acho nada de mais em envelhecer. Faz parte do ciclo da vida. Eu tenho dificuldade apenas em lidar com os percalços do caminho, que muitas vezes os desconheço. Tenho imensa dificuldade em perceber que pertenço a certos lugares - embora a maior parte eu me vejo não pertencendo, e isto, em particular,  é o que me machuca mais, confesso. 

Muitas vezes os ambientes são mais jovens do que eu. São desta nova era e meu molde é antigo, não me encaixo e logo me vejo buscando um novo local de pertencimento.

Um dia foram os eventos de anime/games, outro as publishers, outra vez foi as gaming lans, outra foi João Pessoa, outro dia foram os grupos de mães do Facebook e, agora, os esports (de novo), acabando em outro coração partido. Me dei conta que eu amo mais o conceito do que a prática, e cá estou, novamente, sem abrigo.

Porque a fase passou. Talvez tenha amadurecido ou amado de menos. Não importa. Algo mudou, estou cada vez mais próxima dos 40 do que dos 30, muito diferente da maioria das pessoas que me acompanhou até aqui, e é hora de seguir para uma nova aventura.

Gosto de desafios, mas ao mesmo tempo, fico esperando ter, mais uma vez, aquela sensação de pertencimento.

Ela me embriaga de expectativas. De sonhos. De reciprocidade.

Talvez seja eu, sendo velha pro mundo novo.

Ou talvez apenas não tenha ainda encontrado o meu lugar.

Seja como for, vou continuar procurando. É a jornada que conta, dizem. Talvez. Mas estarei sedenta pra saborear o doce gosto da paz interior.

Que ela sinta meu cheiro e me deixe entrar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

De volta no fim do ano.

É estranha a sensação de encontrar este blog. Um espaço que era só meu há alguns anos e de repente foi esquecido pelas curva bruscas da vida. Ou somente pela vida acontecendo.

É.

A vida acontece e a gente mal a acompanha. Quero dizer, acompanhar mesmo. Em 2016, meus filhos eram literalmente bebês. Hoje, são crianças que lêem. Sabe? Escrevem seus nomes e lêem. Pelo amor de Deus.

O tempo passa. A gente mal percebe.

Quando pisca, BAM! Eles já estão adolescentes. BAM! Adultos. BAM! A vida passou.

Passou rápido demais.

Deve haver um motivo para eu ter encontrado este blog entre teias de aranha, neste momento da minha vida onde, não por acaso, me encontro perdida. De novo. Mas desta vez, eu entendo os sintomas e sei o caminho. Mas sigo apavorada.

Eu fui criada pra ter medo, nada de novo sob o sol. Medo de me abrir, medo de sonhar, medo de ser eu mesma, muito diferente do resto.

Mas eu já sou diferente do resto. E muito, se quer saber. Sempre fui. Antes, eu achava ruim. Hoje, acho uma coisa incrível.

No entanto, ainda tenho muitas ressalvas de quem eu sou. Muita insegurança. Sobras deste passado temeroso. 

Ao menos agora faço terapia pra me ajudar a me sentir mais segura com como me sinto quando a vida acontece. Porque às vezes ela acontece fora do meu controle e eu me sinto péssima. 

Como agora.

Mas agora o que me incomoda é que em 38 anos eu ainda não encontrei meu lugar no mundo social. Não tenho uma galera, amigos, pessoas fora da família com quem posso contar. Quero dizer, eu admiro muita gente e tenho um puta carinho, mas tenho absoluta certeza que essa balança pende mais pro meu lado. O que não é culpa de ninguém, apenas das minhas expectativas errôneas.

Enfim, que confusão de informações.

Em suma, estou bem. Ainda trabalhando com social media em esports sem ter a certeza absoluta se trabalho por amar a área ou por ser apenas boa nisso. Com um medo pavoroso de descobrir que não seja nenhuma das alternativas e me encontrar mirando um sonho antigo que não tem mais forças pra alçar vôo. 

Talvez ele não seja apenas um sonho, mas a fagulha de algo que procuro há muitos, muitos anos: propósito.

Quem sabe nesta nova jornada, não?